A Vida Ideal e a Pessoa Ideal!

25/11/2021

 Somos, todos os dias, estimulados a buscar a vida ideal, o corpo ideal, a família ideal. Mas qual seria, de fato, o ideal? Para quem é esse ideal? Será que o ideal eu consigo alcançar? E se eu não alcançar, serei eu um fracasso?

Já parou para pensar que o "modelo ideal de vida" é uma grande cilada? Um agente sabotador do seu sucesso?

Como podemos ter algo que seja ideal para todos? Como podemos engolir a ideia de uma fórmula de vida, de relacionamento, de sabores, de valores ideais?

É impossível uma verdade absoluta, impossível o sabor ideal, a fruta perfeita, a pessoa perfeita, o casamento perfeito já que somos pessoas com ritmos e corpos diferentes.

Temos experiências diferentes de vida, moramos em lugares diferentes, temos um aparelho digestivo diferente, temos olhos e cabelos diferentes, temos alturas diferentes, tipos de corpos diferentes, ritmos diferentes, temperaturas diferentes. Dessa forma, como podemos ter uma única fórmula que seja fiel a todos?

Fomos influenciados a questionar a nossa qualidade e força, somos influenciados a duvidar de nosso potencial e gosto, de rejeitar o que somos, o que pensamos e o que queremos.

 Todos os dias rejeitamos quem nós somos, o que sentimos e realmente desejamos. Nos sentimos inseguros em viver num mundo que parece não ser para nós.

Olhamos em volta e percebemos que para atingir uma vida ilusoriamente segura, próspera, "ideal", temos de renunciar a nossa leveza, saúde, rejeitar quem somos e até aniquilar quem somos. Rejeitamos o nosso ritmo e nos envergonhamos de nossa "psêudo" incompetência na vida que conduzimos, temos que reverenciar os que sortudamente tem os corpos perfeitos, os pais perfeitos, a educação perfeita, o cabelo perfeito a profissão perfeita, o dinheiro perfeito, o poder perfeito a vida perfeita.

M as já observou que os perfeitos não estão felizes? Já observou que os perfeitos não se acham perfeitos? Que os perfeitos estão se sentindo imperfeitos? Por que será?

Talvez porque essa ideia de perfeição seja uma grande cilada, que amarra a todos em sua jornada.

Alimentamos esses estereótipos falidos.

Lutamos e entramos em conflito com nosso corpo, nossas emoções e sentimentos. Pois muitas vezes, o que nos faz feliz é de longe compatível com o que é perfeito e seguro. Andamos contra a corrente de nosso corpo e sentimentos. Por não conseguirmos atingir esses ideais de perfeição e segurança, nos sentimos perdidos.

O que fazer? Quero ser mais alto, mais magro, ser mais ágil, ser mais corajoso, ser mais prático e quero ser muito mais do que sou hoje e não consigo.

Por que não consigo? "Porque esse, não sou eu."

Se pergunte, por que você está insatisfeito? Você está insatisfeito porque o que você é hoje, realmente não serve? Não te alimenta e satisfaz? Ou porque, o que você é hoje e o que tem hoje, não é o que você acha que deveria ser ou ter?

Já parou para pensar que alguns de seus sofrimentos não sejam porque você não é ou não tem o que seria ideal, mas sim, porque se sente inseguro sendo feliz com o que você é e da conta hoje.

Não estar de acordo com o ideal, não estar como deveria ser, te deixa inseguro de que se, não atingires a meta, não será aceito e não estarás seguro.

 Muitas situações de nossa vida são realmente desconfortáveis, são desafiadoras, mas o peso que damos a ela é bem maior do que realmente elas são.

Se sua estrutura óssea é larga e seu metabolismo é mais lento, como você pode ser uma pessoa mais franzina? Como você pode mudar sua fisiologia sem agredir a natureza, o seu corpo? Seu sofrimento vem de você não aceitar ter nascido como você realmente é e não porque isso é um problema, mas porque você acha que não está certo ser você, é injusto ser você do jeito que você é, totalmente fora do que deveria ser. Ser totalmente fora do ideal.

Você precisa se enquadrar e se seu corpo ou sua realidade não permite isso, você sofre, acha que é castigo e que a vida é injusta e aí, você se enfraquece.

O que realmente tem por trás da necessidade de se enquadrar? Não conseguimos celebrar sozinhos, não conseguimos nos sentir seguros conosco, precisamos de validação.

A validação cria uma ilusão de segurança e apoio. Cria uma ilusão de estarmos fazendo parte de algo.

Não fazemos parte de nada, nossa jornada é solitária, prestamos contas a vida sozinhos sempre. Toda escolha que fazemos, temos nós mesmos que arcar com elas, então, por que querer sempre fazer parte do ideal se quem responde por nossa vida somos nós? Por que não começamos a aceitar que ninguém pode nos validar? E por que não pode? Porque ninguém se sente validado por si mesmo, ninguém se sente realmente seguro, inteiro, então como pode validar e dar garantia de felicidade a alguém?

Ninguém consegue dar felicidade a alguém, garantir felicidade a alguém, melhorar a vida de alguém dentro de seus parâmetros de felicidade. Isso é impossível!!!

 Precisaríamos ser todos santos, e os santos se reprimiram em nome da fé, o que os tornam incapazes de falar de algo do qual abriram mão sem ter experienciado e transformado. Você não tem como saber o que certo ou errado para alguém de algo que você nunca viveu.

Você precisa aceitar suas vontades, entendê-las, senti-las para saber o que elas representam para você.

E quando, você realmente quiser mudá-las será porque você quer e não porque você acha que deveria. Saber que você está em busca do que realmente te completa e não, do que você acha que te deixará seguro.

Se você tem uma família com dificuldades e faz da lamentação seu mantra, o que de fato pode ser mudado? Desejar ter uma família diferente é mais doloroso do que aceitar a família que tem e fazer o melhor que pode dentro do que é real. E não desejar o irreal, o impossível e se frustrar com isso.

 Suprimir quem você realmente é e forçar a ser o que acha que deveria ser, só faz de você uma pessoa infeliz e frustrada.

Tudo o que você desejar para você deveria ser de acordo com sua real verdade.

Quando falo isso, não digo que não devemos nos esforçar para conquistarmos uma vida mais próspera, mas confortável, buscar relacionamentos mais equilibrados, buscar ter harmonia em seu ambiente, não é isso. Quando falo em encarar a nossa real vontade e condição, falo de respeitar a natureza de seu corpo, de quem você realmente é e do que realmente da conta.

Quando você tem uma estrutura larga, por exemplo, e gostaria de ter ombros mais curtos, isso é um sofrimento desnecessário, porque você tem aqueles ombros e nada do que faça vai mudar isso. Se você tem um filho em condição especial, se vem de uma família humilde, você não vai mudar isso, tudo o que você poder fazer é aceitar e ter uma vida melhor dentro da realidade que você tem.

Rejeitar a sua realidade não provoca mudanças, aceitá-la sim. Aceitar nossa condição é o que nos dá a inteligência de transformá-la. Rejeitá-la nos leva a ilusão e a frustração.

Rejeitar quem você é e o que você tem, só te traz mais frustração e cansaço, você não pode mudar a realidade, mas pode transformá-la, mas dentro do que você dá conta e não sacrificando sua identidade e valores.

Existe uma linha tênue entre esforço e sacrifício.

Quando nos esforçamos estamos dentro do que damos conta, quando nos sacrificamos, renunciamos a algo vital por um ideal que para nossa surpresa, ainda assim não teremos atingido a meta.

Queremos o impossível!!! Queremos uma vida estável sem desafios, sem diferenças, queremos uma vida segura e sempre feliz com tudo no lugar. Essa vida não existe, nunca existiu e jamais vai existir porque simplesmente não teria sentido viver.

Nunca nada é seguro, porque toda mudança é instável e a vida é mudança. Correr riscos, ser aceito um dia e ser rejeitado no outro. É isso. Não espere mais que isso, porque é ilusório. Somos assim, soltos ainda sem chão. Nunca serás aceito por todos e, também, nunca serás rejeitado por todos.

Mas poderás ser aceito por ti ou rejeitado por ti, disso você tem controle!

Texto de Maprem zaki